sábado, 13 de março de 2010

O sentido elétrico dos Tubarões: Um detector surpreendentemente sensível de campos elétricos ajuda o tubarão a mirar a presa


por R. Douglas Fields

Pesquisas em laboratório demonstraram que os tubarões conseguem sentir campos elétricos extremamente fracos – como os produzidos pelas células animais em contato com a água do mar. Mas como eles usam esse sentido singular precisa, ainda, ser provado.

Até os anos 70, os cientistas nem mesmo suspeitavam que tubarões fossem capazes de perceber campos elétricos fracos. Hoje sabemos que essa eletrorrecepção os ajuda a encontrar alimento e pode funcionar mesmo quando as condições ambientais tornam os cinco sentidos comuns praticamente inúteis. Ela funciona em água turva, escuridão total e mesmo quando a presa se esconde sob a areia.

Sentido Oculto

A história começa em 1678, quando o anatomista italiano Stefano Lorenzini descreveu poros que pontilham a parte dianteira da cabeça de tubarões e arraias, dando aos peixes a aparência de barba mal feita. Ele notou que os poros se concentravam ao redor da boca do tubarão e, ao remover a pele vizinha, que cada poro levava a um longo tubo transparente, cheio de um gel cristalino. Alguns dos tubos eram pequenos e delicados, mas outros tinham quase o diâmetro de um fio de espaguete e vários centímetros de comprimento. Na região mais profunda da cabeça, os tubos se congregavam em grandes massas de gelatina transparente. Ele considerou e então rejeitou a possibilidade de que esses poros fossem a fonte da substância viscosa do corpo do peixe. Posteriormente, especulou que poderiam ter uma “função mais oculta”, mas seu verdadeiro propósito permaneceu sem explicação.

As coisas começaram a se esclarecer em meados do século XIX, com a descoberta da função da linha lateral dos peixes, um órgão que partilha algumas semelhanças com o sistema de poros e tubos de Lorenzini. A linha lateral, que se estende pelo lado de muitos peixes e anfíbios, das guelras à cauda, detecta o deslocamento de água. Nos peixes, ela consiste em uma fileira especializada de escamas perfuradas, cada uma com abertura para um tubo longitudinal logo abaixo da pele. Em protuberâncias ao longo de seu comprimento, células sensoriais especializadas chamadas ciliares estendem projeções esguias, parecidas com escovas (ou cílios), no tubo. Movimentos ligeiros na água, como os causados por peixes nadando a uma curta distância, dobram as massas ciliares microscópicas como um vento causa ondas em uma plantação. Essa reação estimula os nervos, cujos impulsos informam o cérebro sobre a força e a direção do deslocamento de água. Nós, humanos, herdamos uma habilidade descendente dessa linha lateral na cóclea de nosso ouvido.

No final do século XIX, o microscópio revelou que os poros no focinho do tubarão e as estruturas incomuns sob eles, atualmente chamadas ampolas de Lorenzini, deviam ser órgãos sensoriais. Cada tubo terminava em uma bolsa bulbosa, ou ampola. Um nervo fino emergia da ampola e se juntava a ramificações do nervo da linha lateral anterior. Os cientistas rastrearam essas fibras nervosas da base do crânio, onde elas entram no cérebro pela superfície dorsal da medula, um destino característico de nervos que levam informação sensorial ao cérebro. Os observadores discerniram uma única célula ciliar minúscula, semelhante às do ouvido interno humano e do sistema da linha lateral do peixe, dentro de cada ampola. Mas o tipo de estímulo que elas poderiam detectar permanecia desconhecido.

R. Douglas Fields Realizou seu mestrado no Moss Landing Marine Labs e seu doutorado em biologia oceanográfica no Scripps Institution of Oceanography. É neurobiólogo do National Institutes of Health. Em seus estudos sobre tubarões, ele conta com a colaboração da esposa, Melanie Fields, professora de biologia do ensino médio. Fora do trabalho, Fields passa seu tempo escalando, mergulhando e montando guitarras.

Multimídia:
Veja o infográfico animado dos sentidos do tubarão durante a caçada.
http://www2.uol.com.br/sciam/multimidia/campos_eletricos.html

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